El emprendedor brasileño en el mapa tecnológico de países en desarrollo
Sieglinde Kindl da Cunha, Yára Lúcia Mazziotti Bulgacov y Maria Lucia Figueiredeo de Mesa
Essa pesquisa aponta para um debate mais amplo sobre empreendedorismo e inovação em países em desenvolvimento. Esses são temas que devem ser trabalhados e analisados quando se fala em competitividade autêntica e não espúria dos países emergentes na atual sociedade do conhecimento. Uma dos fatores que definem uma das últimas posições do Brasil no ranking internacional, em termos de lançamento de novos produtos é o elevado índice de empreendedores por necessidade no Brasil. Esse tipo de empreendedor normalmente desenvolve suas atividades produzindo bens já existentes no mercado, com baixos índices de inovação. O empreendedor por necessidade é aquele que foi excluído do mercado formal de trabalho ou não conseguiu se inserir neste mercado, ou ainda aquele empreendedor que busca uma atividade que não compromete o apoio familiar. Esse conceito de empreendedor se distancia do conceito de empreendedor inovador destacado por Schumpeter.
Um dos aspectos interessantes a ser destacado é a média de escolaridade. Segundo os dados da pesquisa GEM 2008, para os empresários que iniciam atividades, a média é de 5 a 11 anos (o equivalente ao ensino médio), sendo mais elevada para os empresários já estabelecidos, com média de mais de 11 anos de estudo (o equivalente ao ensino universitário). Esse dado mostra que a maturidade das empresas está relacionada a pessoas mais capacitadas. Esta informação é reforçada quando se verifica o maior nível de escolaridade dos empresários com mais tempo de atuação de mercado. Por outro lado, com mais escolaridade, os empreendedores são mais inovadores, por serem mais críticos, mais informados, com maior capacidade gerencial e, possivelmente, mais sensíveis à necessidade de desenvolvimento tecnológico.
Algumas dificuldades relacionadas à inovação são apontadas na pesquisa realizada com especialistas em empreendedorismo realizadas pela pesquisa GEM-2006.
Conforme destaca Figueiredo (2004), para a maioria das empresas pequenas e médias que iniciam suas atividades, a forma mais freqüente de inovação é por meio da aquisição da tecnologia incorporada, obtida de fornecedores de equipamentos e de materiais e por meio de algumas inovações de processos.
O baixo coeficiente de abertura da economia brasileira também pode ser um indicativo da baixa taxa de lançamento de produtos novos. Durante décadas o setor produtivo brasileiro foi altamente protegido, criando uma cultura pouco inovadora no empreendedor brasileiro. A orientação para o mercado interno estimula empreendimentos que nascem em função da necessidade ou oportunidade de produção local. Essas empresas utilizam tecnologias disponíveis e produzem produtos e serviços conhecidos e com muitos concorrentes no mercado. No Brasil, a grande maioria dos empreendimentos produz para o mercado local ou regional e o produto colocado no mercado compete através de preço e não pela diferenciação e qualidade do produto. Portanto as novas empresas também pela via da estrutura de mercado são pouco inovadoras.
Outro fator que cria obstáculos ao potencial de inovação do micro empreendedor é a fragilidade e o baixo nível de maturidade do sistema brasileiro de apoio à inovação, estrutura de apoio formal a elaboração, orientação e acompanhamento de projetos e a estrutura de financiamento à micro e pequenas empresas. Ao iniciar suas atividades sem conhecer as condições de mercado e as possibilidades sucesso do seu negócio, o empreendedor é mais um imitador do que um inovador, e dessa forma mina suas economias e sonhos, para atividades pouco inovadoras e com raras possibilidades de sustentabilidade no mercado. O sistema de inovação brasileiro encontra-se em um estágio inicial de desenvolvimento, no qual não são predominantes as relações de cooperação entre empresas na busca de novos mercados, de desenvolvimento tecnológico, de desenvolvimento de fornecedores e de resolução de problemas organizacionais. Os novos empreendimentos não possuem economias de escala, escopo nem poder de negociação para enfrentar as turbulências do mercado e as exigências impostas pela competição internacional.
O Brasil está muito longe, ou pior é um dos últimos do ranking dos países com potencial de inovação. Essa é uma situação crítica para uma sociedade que assume o empreendedorismo como superação da miséria, pobreza, desemprego. É esse tipo de empreendedor precário que caracteriza o empreendedorismo brasileiro. Será que é assumindo uma atividade empreendedora precária, sem estabilidade, marginalizada que colocaremos nossos jovens no mercado de trabalho? É nesse tipo de atividade que depositaremos nossos idosos com aposentadorias que não dão conta de sua sobrevivência? Que colocaremos as mulheres trabalhando em condições precárias para sustentar seus filhos? Se não for esse o caminho, temos que pensar políticas sociais que permitam a esse segmento da sociedade sustentar os seus empreendimentos através de apoio financeiro, fiscal, técnico e de mercado.
Os segmentos de empreendedores com potencial de inovação merecem um olhar atento para as suas potencialidades, buscando colocar a disposição destes empreendedores, informações técnicas e sobre mercado, incentivando a colaboração e parcerias, incentivando as aglomerações de empresas, criando programas de melhorias de qualidade e produtividade, estimulando eventos como feiras, viagens internacionais e visita técnicas especializadas. É papel do estado, através de ações reguladoras e estimuladoras, disponibilizar condições a esse empreendedor, de assumir e fazer prosperar o seu empreendimento.
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Fonte: GEM 2008