José Henrique Souza y André Tosi Furtado
Entre 1997 e 2004, o comércio internacional de produtos médicos cresceu acima da média das exportações de produtos manufaturados. Entre 1997 e 2004 o volume exportado mais que dobrou passando de US$ 115 bilhões para mais de US$ 309 bilhões, talvez US$ 370 bilhões em 2005. Em termos de volume e dinamismo a indústria de medicamentos está à frente, entretanto, nos últimos anos também é possível notar uma grande aceleração na taxa de crescimento de exportações de produtos farmacêuticos, instrumentos médicos e equipamentos de diagnósticos e radiação.
No período estudado o volume total das exportações mundiais de produtos médicos cresceu mais de 267%. Ritmo que surpreende mesmo em anos não muito bons para o comércio mundial como em 2001. Nas décadas de 1980 e 1990 as exportações do segmento de produtos médicos também já cresciam acima das exportações de manufaturados demonstrando que esse segmento apresenta uma elasticidade renda acima da média dos manufaturados.
Entre os grandes exportadores os Estados Unidos e a Irlanda apresentam comportamentos distintos. Os Estados Unidos saiu de um saldo positivo bastante confortável de mais de US$ 3 bilhões para um déficit gigantesco de quase US$ 13,0 bilhões. O resultado do comércio exterior americano no segmento médico é decadente nos quatro grupos estudados sobretudo em medicamentos. Esse país aumentou suas exportações em todos os grupos durante o período estudado, porém, as importações cresceram mais intensamente o que agravou da balança comercial do segmento. O destaque do mercado americano é o elevado volume de importações de medicamentos. Em seguida, com um volume consideravelmente menor vem os produtos farmacêuticos e de instrumentos médicos.
Até 2000 o saldo comercial americano era positivo, tornando-se negativo de forma crescente a partir de então. As exportações americanas não caíram, o que explica o saldo negativo a partir de 2001 é o aumento das importações de remédios, indústria na qual os Estados Unidos apresentam seu maior volume exportado. Provavelmente esse déficit se deve à forte demanda interna e investimentos externos de empresas americanas nos demais países do NAFTA, o que explicaria o sucesso das exportações mexicanas de instrumentos médicos.
Em contraste com os números americanos, a Irlanda é o 7o maior exportador e o 20o maior importador do segmento. No caso de medicamentos a Irlanda não é o maior exportador, mas apresenta o maior saldo positivo. Tal situação decorre do fato de que a Irlanda exporta seis vezes mais do que importa. Exportou em média de US$ 19 bilhões entre 1997 e 2004 e importou somente US$ 2 bilhões em 2003, o que representou um saldo positivo do setor por volta de US$ 20,0 bilhões.
A entrada de novos países vem dividindo fatias importantes no mercado internacional de produtos médicos. Estudar mais detalhadamente esses novos exportadores e como eles estão conseguindo entrar em um mercado tão competitivo é um desafio estimulante. Aparentemente estão surgindo ambientes propícios para a instalação e ampliação de segmentos da indústria de bens para a saúde em países como a Irlanda, China e Índia.
Para os países menos desenvolvidos o aumento da competitividade no mercado internacional de produtos médicos cria novas exigências. Para esses países é preciso uma estratégia de desenvolvimento das exportações que envolva o apoio público e incorpore tanto assistência tecnológica quanto técnicas em estratégia exportadora, “design” e gestão. A Irlanda e Israel são exemplos a serem considerados e estudados.
O Brasil vem avançando no mercado internacional de produtos médicos na última década. Suas exportações praticamente dobraram em 7 anos, subindo 91,69% entre 1997 e 2004. Entretanto, importando um volume cinco vezes maior do que o total exportado o país ainda apresenta um forte déficit comercial.
Entre 179 países o Brasil somente tem um déficit menor do que 10 países. Porém, esse saldo negativo, apesar de imenso, poderia ser bem maior não fosse o avanço exportador dos segmentos de medicamentos e instrumento médicos e da queda nas importações desse último segmento e do segmento de equipamento de diagnóstico e radiação. De fato, a relação entre o que o Brasil importa e exporta vem caindo. Em 1997 o país importava 7,6 vezes mais do que importava. Em 2004 essa relação caiu para 5,0.
Por fim é preciso entender que um volume significativo de importação de produtos médicos é, ao mesmo tempo, um bom e um péssimo sinal. É positivo porque demonstra que o país possui capacidade de importar produtos essenciais e sofisticados capazes de elevar o padrão de atendimento à saúde local. Porém, é, também, sinal de que a estrutura produtiva interna não é capaz de atender adequadamente a demanda por produtos médicos.
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